Movimento de escoteiros descobre renovação no ativismo ambiental Grupo Parecis, fundado em 1950 em São Paulo, descobre no “Mãos à Obra pelo Tietê” um impulso para renovar seu modo de atuar com base em dois princípios fundamentais: o contato com a natureza e a ajuda ao próximo Iniciado no fim do século XIX por um soldado inglês, o movimento de escoteiros tem por objetivo ser uma atividade extra-escolar que põe crianças e adolescentes em contato com a natureza. Desde então, muita coisa mudou em relação a como esse contato com a natureza era feito. “Até pouco tempo atrás, os escoteiros iam acampar e deixavam uma clareira. Saíam no mato, cortavam árvores, caçavam animais, lavavam louça no rio, deixavam lixo.”, explica Ingrid Camargo, chefe de tropa do grupo Parecis. “Hoje estamos trabalhando com o conceito de ‘pioneirismo ecológico’: levar e trazer de volta a madeira que vai ser usada, se tiver que cortar uma árvore, precisa plantar em seguida, pesquisar e palpitar sobre o meio ambiente”, explica Ingrid. Outra adaptação que estão buscando diz respeito a um princípio fundamental dos escoteiros: fazer o bem ao próximo. Daí a importância de se trabalhar com a comunidade. “Durante algum tempo, ficamos isolados aqui na sede, até porque, em baixo do viaduto (Rangel Pestana, no centro de São Paulo) temos pouca visibilidade. Chegou a hora de irmos ao encontro da população do entorno.” Foi nesse momento de adaptação a uma nova realidade que surgiu a parceria com a SOS Mata Atlântica. Ingrid conta que ela e o marido, Maurici Camargo, que também é do grupo de escoteiros, conhecem Mário Mantovani, diretor da SOS, há mais de vinte anos. “Ele já fez trabalhos para a União dos Escoteiros do Brasil e nós sempre acompanhamos as atividades da ONG.” Certa vez, em 2002, no Dia do Tietê, a SOS organizou uma série de atividades na Ponte das Bandeiras e convidou o Parecis para fazer um acampamento demonstrativo no canteiro central do cruzamento entre as avenidas Cruzeiro do Sul e Tiradentes. “Foi então que eles nos convidaram para participar do Mãos à Obra”, lembra Ingrid. Monitoramento e diagnóstico Em junho de 2003 o Parecis deu início às medições da qualidade da água do rio Tamanduateí. “A tropa escoteira, acompanhada do Maurici e eu, segue até o ponto de medição e pesca a água, porque é muita sujeira. O resultado da avaliação é sempre péssimo. Coliforme, por exemplo, nunca deu menos que amarelo benote”, indica Ingrid sobre uma das gradações mais graves. A ação de monitoramento vem trazendo uma demanda por estudar mais o assunto da poluição dos recursos hídricos – “até para explicar com mais propriedade às crianças”, ressalta Ingrid. Ela acredita que o projeto deu um impulso para se entender melhor a importância do meio ambiente, trazer conscientização sobre o lixo e trabalhar ecologia nos acampamentos. Após participar de alguns cursos organizados pela SOS, Ingrid montou o projeto Parecis Recicla, que tem por objetivo fazer uma conscientização dos escoteiros sobre reciclagem, para depois expandir à comunidade. “É bom para os escoteiros porque os estimula a trazer o lixo de casa; para a comunidade, porque ajuda com o material que recolhem aqui para revender e para o grupo como um todo porque reforça o contato com a população.” Para Ingrid, o diagnóstico socioambiental proposto pela SOS é outra ferramenta importante para fortalecer a identidade do grupo na proposta de trabalhar com a comunidade. “Queremos mapear a região, fazer um roteiro temático e apurar as necessidades de quem mora e trabalha aqui.” Renovação Iniciar um contato maior com o entorno também tem como objetivo trazer novos adeptos. Hoje, o grupo Parecis soma 25 escoteiros. “Mas tínhamos que ter pelo menos 32 na tropa”, ressalva Ingrid. Para ela, a diminuição de participantes no movimento escoteiro, considerado a maior ONG do mundo, é uma realidade causada principalmente pelas novas tecnologias, como a Internet e o videogame. No caso específico do Parecis, existe outro obstáculo: o financeiro. A maioria dos participantes atuais não é da região, pois é necessário pagar uma taxa mensal de R$ 15, que é alta para uma realidade de moradores de baixa renda, como o centro. “Fazemos um esquema para tentar custear a mensalidade dos escoteiros mais carentes, mas não dá para subsidiar todo mundo. Também pensamos em conseguir um patrocínio, mas ainda não temos como correr atrás disso”, explica Ingrid. De qualquer forma, já está aumentando a visibilidade do grupo. “Outro dia um senhor veio nos procurar para ter apoio num abaixo-assinado contra a depredação da passagem que liga a parte alta e baixa do viaduto”, conta ela. As novas perspectivas dos Parecis vêm justamente num momento histórico do movimento dos escoteiros. Em 2007 comemora-se o centenário oficial da fundação do movimento, com um grande acampamento na ilha de Brownsea, na Inglaterra, onde tudo começou. São esperadas dezenas de milhares de pessoas, já que no último acampamento mundial realizado no Chile, em 2004, compareceram 35 mil escoteiros de todo o globo. Este ano, também o Brasil está marcado por um grande evento, que é o Mutirão Escoteiro Nacional de Ação Ecológica – 2005 e tem como tema a água. Vários grupos escoteiros de todo o país desenvolvem atividades preparatórias durante o mês de maio e nos dias 4 e 5 de junho são realizadas atividades por todo o país. É o movimento escoteiro em renovação.