Cala Boca já Morreu

Bacia
Pinheiros-Pirapora
Cidade
São Paulo/SP
Corpo d´Água Monitorado
TIETÊ
Ponto Monitorado
CEBOLÃO -23.526906978744,-46.750069503583
Tipo
0
Faixa Etária
Crianças

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Sobre o Grupo

‘Tietes do Tietê’ mostram como criar mídia independente Grupo de crianças criado na primeira fase do ‘Observando o Tietê’ conquistou maturidade, fundou a ONG Cala Boca Já Morreu e aglutinou novos jovens em oficinas de comunicação diversas, onde monitoramento do Tietê se transforma em programa de rádio e registros na Internet A expressão é velha mas ainda muito usada pelos adultos que queiram impedir as crianças de dar palpite sobre o que não lhes diz respeito. O conhecido ‘cala boca’ não agrada a ninguém mas serviu de inspiração para um grupo de crianças de 8 a 10 anos que, ainda em 1995, afirmaram sua vontade de falar e serem ouvidos criando o grupo ‘Cala a Boca Já Morreu’. Tudo começou com um programa semanal numa rádio comunitária do Butantã – a rádio Cidadã – onde o grupinho de dez crianças produzia, roteirizava e apresentava suas próprias idéias e visão de mundo, entre os anos de 1995 e 1998. Filha da psicopedagoga e coordenadora do GENS Serviços Educacionais, Gracia Lopes Lima, a pequena Ísis, então com 6 anos, aproveitou a estrutura da sede da empresa da mãe para organizar os equipamentos e estrutura do programa, junto com os colegas que também freqüentavam a GENS como alunos ou filhos de professores. Diferente de outros grupos, o vínculo entre as crianças não era o da escola mas o da atividade de criação de seu próprio produto de comunicação. “Um dia, o Tietê foi assunto do programa e nos aproximamos do Samuel Barreto, coordenador do Observando o Tietê na época. Nos encantamos por ele e pela idéia de preservação do rio, fazendo um primeiro programa com a análise da água ao vivo, tanto da torneira quanto da água coletada no Tietê. A partir daí, os ouvintes se apaixonaram pela questão ambiental”, memoriza Ísis, com 19 anos. O talento da jovem comunicadora solidificou o conceito de fundo do ‘Cala Boca’, dando origem a ONG de reforçado papel na formação dos jovens para a cidadania. Da sede da GENS, passaram à casa da Isis e hoje têm sua própria sede, onde oferecem oficinas e cursos para os mais variados públicos. Em 1996, quando tiveram contato com a SOS Mata Atlântica, fundaram seu jornal impresso, em 97 o programa de TV, e em 99 começaram a usar a Internet como veículo, chegando ao universo do vídeo em 2000. Mas o trabalho deu mesmo um grande salto em 2004, quando o ‘Cala Boca’ se tornou uma ONG que multiplica sua visão da comunicação comunitária para um público entre 7 e 18 anos. O objetivo é educar os jovens para que não caiam nas ‘armadilhas’ dos meios de comunicação, aprendendo a ler criticamente as mensagens que lhes chegam, desconstruindo procedimentos adotados pela grande imprensa e passem a valorizar suas próprias falas. “Saímos do lugar de espectadores passivos para participar efetivamente da vida em sociedade”, coloca Ísis, pioneira na tarefa de estimular os jovens a desenvolverem sua própria linguagem. E os canais de expressão não faltam: além de atuarem em todas as etapas da criação, produção e apresentação de programas de rádio, TV, vídeo, jornal, teatro e fotografia, os membros do ‘Cala Boca’ dão palestras sobre gestão do grupo em cursos de administração, possuem parceria com a rádio Guadalupe, em Osasco, com a Universidade Computense de Madrid (Espanha), e dão oficinas para doentes mentais do Centro de Saúde Peri-Peri – este com um programa na rádio ‘9 de Julho’, centro de São Paulo. A influência na autonomia dos jovens é marcante. Numa parceria com o SESC Pompéia, criaram a rádio ECA – para discutir ao vivo o Estatuto da Criança e do Adolescente com o público, ainda pouco consciente de seus direitos e deveres. E para quem quiser se aprofundar na temática da ONG, é oferecido o Curso Intensivo de Formação em Edu-comunicação, este pago e com duração de uma semana. Mas foi na relação com o meio ambiente que as crianças descobriram sua fonte original de inspiração. Na primeira fase do monitoramento, em 1996, produziram o jornal ‘Cala Boca Já Morreu’ – com cinco edições de 5 mil exemplares, sendo as duas primeiras só sobre o Tietê. “O monitoramento já tinha virado um hábito, fomos até Salesópolis, acompanhamos todo o percurso do rio, foi uma fase de descoberta muito intensa. Hoje, é emocionante rever o envolvimento dos jovens na segunda fase, vê-los entendendo o rio, o cheiro, todo mundo faz careta por causa do cheiro”, diverte-se a coordenadora da ONG. Desde dezembro de 2004, um grupo composto por cerca de dez crianças e adolescentes segue mensalmente para o trecho do Tietê localizado embaixo do Cebolão, na Marginal Tietê – mesmo ponto monitorado em 1996. Agora eles receberam o apelido de ‘Tietes do Tietê’ e estão envolvidos não só com a análise do rio, mas com a criação de produtos de mídia atrelados ao monitoramento. É um ‘pretexto’ para trabalhar a questão da comunicação discutindo aspectos como moradia, saneamento, entre outros relacionados aos usos da água. “A ida ao Tietê é um momento muito especial, olhamos a cidade de um ponto de vista novo, de baixo pra cima, e sentimos a proximidade com o rio, assim como as transformações feitas pelo homem. O Cebolão cobre o céu, como se fosse uma camada sobe a outra, e só quando atravessamos a ponte de tonéis (usando coletes e toda a parafernália técnica para evitar acidentes), somos transportados para aquela realidade, principalmente pelo cheiro e visão do rio. Sem o monitoramento, talvez nunca tivéssemos a oportunidade de ir lá e olhar a realidade dessa forma”, reflete a secretária executiva da ONG e líder do grupo de monitoramento, Teresa Melo. A percepção é ainda mais ampliada pelo estudo do passado, quando os jovens vêem como era o Tietê e questionam o que esperam para o futuro, se o rio pode voltar a ser navegável, um espaço social do paulistano ou até uma referência de encontro das pessoas... São todos temas pesquisados e transformados em pauta. Primeiro, as crianças têm autonomia para produzir relatos e noticias e inseri-las na Internet. Depois, produziram diferentes programas de rádio que ainda não foram ao ar, mas que pela proposta enviada ao Fundo de Pequenos Projetos do Núcleo, podem vir a compor um arquivo de rádio com registros do monitoramento feito por todos os grupos do Tietê. “O principal por trás dessas ações é perceber a pessoa como sujeito da ação, que tem direito não apenas à informação mas a ser produtora de cultura e a tornar essa produção universal”, propõe Isis, lembrando que qualquer grupo pode se mobilizar para criar sua própria mídia.

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